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saudade o beijo, a juventude que ele

rainha da poeira nesta casa

que começa. dormindo

acordando com meus pensamentos

intactos, meus ecos

meus segredos sussurrados

em viva voz


procrastino as estreias

enquanto acontecem à revelia

da minha forjada

distração.

recuso começar o que já sei,

trilhará cegamente ao fim

de linha


preciso ir

ao mercadinho na rua da frente

mas procrastino ao menos

o final da manhã de domingo.

o almoço não se aprontará

sozinho, a contragosto

da minha vontade


tenho misturado poesia

à vida à vera,

folha de diário

à página de um romance,

mas não escrevo a palavra

amor há muito tempo.


é que outra vez

finjo não remoçar

embora não negue,

tampouco a mim mesma

que estou sempre ao meio

de qualquer caminho


também,

já não sei falar

belezas, frescores, cantigas

de pássaros, amanheceres

saudades, sonhos, desejos

ardentes. entretanto,

não me custa senti-los

afinal, é tudo o que posso,


e somente os direi

com os lábios que tenho,

o seu idioma raro,

apenas a quem decidir escutá-los

na paciência em decifrar

esse meu linguajar cetáceo


já não sei falar amor

com esta língua que acena

da saliva em caldeiras,

da memória aftosa,

da coragem que somente um dia

houve indubitável dentro

lá da minha juventude.


escrevo

como se fosse

minha vó de oitenta anos

isto é, se ela por ventura

tivesse palavras

para estas mesmas inconformidades


na maioria das vezes, ainda

não sei o que fazer

do tempo. mas já não angustio

tanto como antes, quando achava

que estivesse sempre à beira

de perder a hora

(…)





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