saudade o beijo, a juventude que ele
- Deisiane Barbosa
- 19 de abr.
- 1 min de leitura
rainha da poeira nesta casa
que começa. dormindo
acordando com meus pensamentos
intactos, meus ecos
meus segredos sussurrados
em viva voz
procrastino as estreias
enquanto acontecem à revelia
da minha forjada
distração.
recuso começar o que já sei,
trilhará cegamente ao fim
de linha
preciso ir
ao mercadinho na rua da frente
mas procrastino ao menos
o final da manhã de domingo.
o almoço não se aprontará
sozinho, a contragosto
da minha vontade
tenho misturado poesia
à vida à vera,
folha de diário
à página de um romance,
mas não escrevo a palavra
amor há muito tempo.
é que outra vez
finjo não remoçar
embora não negue,
tampouco a mim mesma
que estou sempre ao meio
de qualquer caminho
também,
já não sei falar
belezas, frescores, cantigas
de pássaros, amanheceres
saudades, sonhos, desejos
ardentes. entretanto,
não me custa senti-los
afinal, é tudo o que posso,
e somente os direi
com os lábios que tenho,
o seu idioma raro,
apenas a quem decidir escutá-los
na paciência em decifrar
esse meu linguajar cetáceo
já não sei falar amor
com esta língua que acena
da saliva em caldeiras,
da memória aftosa,
da coragem que somente um dia
houve indubitável dentro
lá da minha juventude.
escrevo
como se fosse
minha vó de oitenta anos
isto é, se ela por ventura
tivesse palavras
para estas mesmas inconformidades
na maioria das vezes, ainda
não sei o que fazer
do tempo. mas já não angustio
tanto como antes, quando achava
que estivesse sempre à beira
de perder a hora
(…)


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